Está um calor que não se pode, ninguém consegue respirar lá dentro, as lojas estão apinhadas, está um barulho infernal. O que eu acabo de descrever é o local predilecto dos portugueses para passarem os seus serões e fins-de-semana e onde eu tive a infelicidade de ter que entrar hoje à noite (presentes de última hora obrigam-nos a estas coisas). Estou a falar, claro, dos centros comerciais (ou shoppings, como queiram).
Odeio centros comerciais. Primeiro demorei 15 minutos a arranjar lugar para parar o carro. Dei voltas e voltas e voltas e não havia maneira de arranjar um lugarzinho que fosse. Todos os lugares que iam ficar livres já tinham um carro parado à espera de estacionar lá. E aquelas estúpidas luzinhas por cima dos lugares só nos enganam! Uma pessoa vê uma luz verde, pensa que tem um lugar livre, acelera por ali fora feito maluco e quando lá chega o lugar está ocupado, mas por alguma razão o carro não foi detectado.
Depois quando entrei lá dentro até me assustei, tal a quantidade de gente que lá andava. Mas esta gente não tem nada mais interessante para fazer numa sexta-feira à noite do que enfiar-se no centro comercial? Uma pessoa vai a Espanha e só se vê gente na rua, à noite. Pais, filhos, velhos, crianças, anda tudo na rua. Faça chuva ou faça sol, faça frio ou esteja calor. Nós não, resolvemos enfiar-nos nos centros comerciais.
Podemos encontrar lá de tudo. O casal de fato de treino, presença sempre importante e habitual neste locais. O fato de treino quanto mais roxo ou lilás fôr melhor. Encontramos também o grupo de teenagers, normalmente às três de cada vez e de preferência abraçadas ou de mãos dadas. E, claro, com a barriga à mostra, pois teenager que é teenager tem que ter a barriga à mostra, nem que esteja um frio de rachar. Falta também o casal bem vestido, ele de fato e gravata, ela toda aprumada como se fosse para uma festa. Depois temos os “grunhos”, normalmente atarrecados, que vestem calças de ganga, meias brancas, casaco de couro e camisa aberta a mostrar um fio dourado. A mulher é, regra geral, igualmente atarrecada, sobre o gorda, mal disposta e passa a vida a espancar os filhos (e parece que tem prazer nisso). Andam normalmente devagar e com as mãos nos bolsos.
E a praça da alimentação? Meu deus, eles são mais que as mães! Tirem-me deste filme! Filas e filas para comprar comida. O tamanho da fila normalmente proporcional à aproximação da ementa à gastronomia tradicional portuguesa. Ou seja, filas infindáveis naqueles sítios que vendem rojões e bifanas e qualquer coisa com arroz e batatas fritas. Filas pequenas naqueles sítios que vendem saladas e afins. Para comer arroz e batatas fritas mais valia ficarem em casa. Não percebo como é que alguém se pode sentir confortável num sítio daqueles. Enquanto almoçamos ou jantamos, se prestarmos atenção conseguimos distinguir 1436 vozes diferentes a falarem ao mesmo tempo e se pensarmos muito nisso começamos a dar em loucos. Eu por mim prefiro comer calmamente em casa, comida saudável acompanhada de uma música agradável. Ou então um restaurante acolhedor, com luz ténue, onde se coma bem e se possa conversar.
Falta, claro, falar do cinema, onde por acaso já não vou há séculos (quem tem filhos pequenos tem que abdicar de certas coisas). E em relação ao cinema só me ocorre uma coisa: quem é que consegue comer aqueles pacotes de pipocas do tamanho de uma criança de 3 anos e beber aqueles copos com 10L de Coca-Cola?
Bom, já devem ter percebido a ideia. Não me vou alongar mais.